segunda-feira, 2 de junho de 2008

SOBRE PEIXES E PALAVRAS...


Um velho ditado afirma: “o peixe morre pela boca”. Ainda que existam várias formas de pescar é inegável que muitos deles cheguem à morte porque sua boca mordeu a comida errada, ou seja, a isca.

Quem já não foi vítima de sua própria língua, quem já não falou o que não devia e que lhe trouxe aflição, vergonha e prejuízo? Sem entrar nos detalhes do uso incorreto da língua, quanto à questão ética, moral ou espiritual, conforme apresenta Tiago no capítulo 3 de sua Epístola Universal, quero discorrer brevemente acerca do uso de palavras de forma indevida, com aspecto dúbio e que pode causar estranheza na mente daqueles mais afeitos à semântica.

Sou um apaixonado pelas letras, mais do que pelos números, afinal, podemos nos comunicar pelo organizar das letras, mas, dificilmente, pelo organizar dos números – exceção feita aos computadores com sua linguagem binária. Confesso que me incomoda quando as pessoas – não as simples e iletradas, mas os que pretendem falar bonito – matam o que um poeta brasileiro chamou de “a última flor do Lácio” no belo poema Língua Portuguesa*.

Não são poucos aqueles que se manifestam a nível de desconhecimento da língua pátria e vão de encontro a quando, na verdade, queriam ir “ao encontro de”, mas se perdem no sentido de. Tudo por quê? Porque acham tais palavras e expressões bacanas de se usar. Mas não sabem os que assim procedem que bacana vem da palavra bacanal, uma festa de orgia na qual os gregos prestavam honras a Baco o deus do vinho, que os romanos chamavam Dionísio. Se falarmos no gerundismo que impera no linguajar corriqueiro então...

Você, amigo leitor, que pretende se expressar em público, cuide de respeitar o vernáculo, adquira uma boa gramática e fuja do uso de termos banais tanto quanto do uso da verborragia, das palavras difíceis meramente colhidas no dicionário.

Jesus não usava linguagem difícil. Falava a língua do povo, todavia, mesclava suas pregações e ensinos com ilustrações compreensíveis a todos, entretanto usava as palavras com sabedoria e poder, e, tanto quanto se sabe, Jesus se expressava corretamente tanto no Aramaico, sua língua materna, falada na Galiléia de Seus dias, ou no hebraico a língua oficial dos Hebreus ou ainda no grego, a língua usada em Seu ensino público.

Entendo que a referência de Jesus ao poder justificativo ou condenatório das palavras em Mateus 12:37 era mais do que uma alusão ao testemunho vivencial. Por não saber se expressar muitos perderam oportunidades e até mesmo a vida. O apóstolo Paulo exorta a Timóteo que seja um exemplo ao rebanho que lhe foi confiado: “Sê um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. Até que eu vá, aplica-te à leitura, à exortação, e ao ensino. Ocupa-te destas coisas, dedica-te inteiramente a elas, para que o teu progresso seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” (I Tm. 4: 12, 13,15 e16)

Há um poder imenso nas palavras. Principalmente nas palavras faladas. Veja-se o exemplo de Hitler que conseguiu convencer os alemães de que o nazismo era algo bom. Ele mesmo declarou o poder que existe nas palavras quando disse: ‘‘Todos os acontecimentos revolucionários que marcaram época foram produzidos não pela palavra escrita, mas pela palavra falada’’.

Em Provérbios 18:21, encontramos uma advertência e uma promessa: “A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto".

*A expressão "Última flor do Lácio, inculta e bela" é o primeiro verso de “Língua Portuguesa”, do poeta brasileiro Olavo Bilac (1865 – 1918). Ele usa esta frase em referência à língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim. ”Inculta e bela” é uma alusão ao mau uso que muitos fazem dela, ainda que ela continue com sua beleza.

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