Gosto de me lembrar das
máximas que meu pai nos dizia na intimidade familiar. Ele era um homem simples,
a começar pelo nome, José. Era feliz, inteligente e sábio. Vez em quando, me
pego repetindo suas frases simples, mas cheias de uma verdade estonteante. Uma
dessas frases era: “Meu filho, para bom
empregado não existe patrão ruim”.
Quando analisamos a verdade
que emerge da frase acima, somos levados a concordar com ela – excetuando os
patrões de fato ruins – uma vez que em certa medida a benevolência ou
malevolência humanas têm um elemento de reciprocidade inerente. Analisemos: Um
empregado que chega sempre atrasado, mas é pontual na hora de ir embora; que
reclama do trabalho; que faz corpo mole; que parece sempre insatisfeito com o
salário e com as funções a ele atribuídas; que sempre reclama o bônus, mas não
quer arcar com o ônus do ofício... Pode esperar uma contrapartida do empregador
que não seja diretamente proporcional ao seu comportamento?
Constantemente ouço as
pessoas reclamando do governo. O governo é corrupto; o governo cobra demasiados
e exorbitantes impostos enquanto não faz investimentos públicos necessários ao
bem-estar geral: saúde, transportes, estradas, segurança pública, educação e
por aí vai... Muitos desses queixosos são especialistas em burlar a lei,
sonegar impostos, poluir o ambiente e um sem-fim de outras coisas e atos que
revelam egoísmo e absoluta falta de comprometimento com o próximo ou com o
senso de coletividade. Outra vez podemos ver o antagonismo recorrente entre o
que se deseja de outrem e o que se pratica na individualidade.
E não é assim em outras
facetas da vida humana? Nos relacionamentos afetivos e até mesmo no aspecto
espiritual? No que tange ao último, até uma não-oração foi forjada em imitação
inversa ao proposto na oração do Pai Nosso: “venha a nós o teu reino, tudo; seja feita a tua vontade, nada!”
Voltemos ao bucólico ditado
de meu pai. De certa forma, as pessoas que estão na ativa, na qualidade de
funcionários, quer públicos ou privados, são sempre liderados ou chefiados por
outras pessoas. Quando alguém é transferido de setor, área, localidade ou função
ou mesmo quando há mudanças na hierarquia de sua área de atuação existe grande
probabilidade dessa pessoa se deparar com um novo líder ou chefe, gerente ou
outra função equivalente. Quase sempre tal probabilidade causa apreensão e
ansiedade porque geralmente tememos o desconhecido. Em se tratando de
segurança, quase sempre as pessoas preferem o feio conhecido ao belo prometido.
Em qualquer das situações
mencionadas, o ditado de meu saudoso pai continua verdadeiro e reflete uma lógica
tão simples: não há o que temer quando fazemos a nossa parte com
responsabilidade e equilíbrio, quando nos preocupamos mais em ser um
colaborador adequado do que em ter um líder apropriado. Ouso, então, afirmar
que para mim, a preocupação não está em quem vai me liderar no futuro próximo
ou distante, de onde essa pessoa virá, sua aparência, seu nome ou se será boa ou
ruim. Eu farei a minha parte, e, se meu velho pai tiver razão como muitas vezes
demonstrou ter, posso afirmar sem medo de errar que a mim não importará se o rei
for Rui ou se o Rei for Ruim...
“Se
for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens.” Romanos
12:18
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