sexta-feira, 12 de junho de 2009

O ÚLTIMO SERMÃO

Uma verdade inquestionável é que boa parte das pessoas não valorizam o que têm até perdê-lo. Muitas vezes me pergunto por que nossas igrejas estão vazias na maior parte dos cultos, exceto aos sábados ou programas especiais e mesmo assim com boa parte dos membros chegando atrasados para o início do culto.

Temos uma verdade cristalina a ser anunciada ao mundo: Breve Jesus voltará e precisamos nos preparar e preparar outras pessoas para o maior acontecimento de nossa vida. Por que não lotamos a igrejas em todos os cultos? Talvez porque temos liberdade para cultuar... Liberdade demais! Ao olharmos para a história da igreja cristã percebemos que o período no qual ela mais cresceu proporcionalmente foi quando a igreja primitiva era perseguida e rejeitada. Quanto mais se proibia o culto ao Senhor, mais e mais as pessoas queriam se unir à igreja infante.

Na idade média houve perseguição e inquisição de várias formas. Na Inglaterra, o parlamento promulgou uma lei chamada de Ato de Uniformidade no qual exigia que os cultos deveriam ser moldados à adoração litúrgica da religião oficial, orientada pela Igreja Anglicana. Diante disso, dois mil ministros puritanos do evangelho foram proibidos de pregarem em público.
No domingo anterior ao dia 24 de agosto de 1662, quando a lei entraria em vigor, aqueles cristãos puritanos ouviram os últimos sermões pregados dos púlpitos que ficariam silentes em poucos dias. E certamente foram sermões poderosos e tocantes. Um destes pregadores puritanos, Thomas Watson, apresentou 20 conselhos aos comovidos irmãos de sua pequena congregação. De forma resumida e em linguagem atualizada a mensagem foi a seguinte:

Antes que eu me vá, devo oferecer alguns conselhos e orientações para cada um de vocês, para as quais desejo a mais especial atenção:

1) Em primeiro lugar, observe as suas horas constantes de oração a Deus, diariamente.
O homem piedoso é homem “separado” (Sl 4.3), não apenas porque Deus o separou por eleição, mas também porque ele mesmo se separa por devoção. Inicie o dia com Deus, visite-O pela manhã, antes de fazer qualquer outra coisa. Leia as Escrituras, pois elas são, ao mesmo tempo, um espelho que mostra as suas manchas e um lavatório onde você pode lavá-las. Adentre ao céu diariamente, em oração.
2) Colecione bons livros em casa.
Os livros de qualidade são como fontes que contêm a água da vida, com a qual você poderá refrigerar-se. Quando você descobrir um arrepio de frio em sua alma, leia esses livros, onde você poderá ficar familiarizado com aquelas verdades que aquecem e afetam o coração.
3) Tenha cuidado com as más companhias.
Evite qualquer familiaridade desnecessária com os pecadores. Ninguém pode apanhar a saúde de outrem; mas pode-se apanhar doenças. E a doença do pecado é altamente transmissível. Visto não podermos melhorar os outros, ao menos tenhamos o cuidado de que eles não nos façam piores. Está escrito acerca do povo de Israel que “se mesclaram com as nações e lhes aprenderam as obras” (Sl 106.35). As más companhias são as redes de arrastão do diabo, com as quais arrasta milhões de pessoas para o inferno. Quantas famílias e quantas almas têm sido arruinadas pelas más companhias!
4) Cuidado com o que você ouve.
Existem certas pessoas que, com seus modos sutis, aprendem a arte de misturar o erro com a verdade e de oferecer veneno em uma taça de ouro. Nosso Salvador, Jesus Cristo, aconselhou-nos: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mt 7.15). Seja como aqueles bereanos que examinavam as Escrituras, para verificar se, de fato, as coisas eram como lhes foram anunciadas (At 17.11). É importante para os crentes ter um ouvido discernidor e uma língua crítica, que possam distinguir entre a verdade e o erro e ver a diferença entre o banquete oferecido por Deus e o guisado colocado à sua frente pelo diabo.
5) Seja sincero.
Seja o que você parece ser. Não seja como os remadores, que olham para um lado e remam para outro. Não olhe para o céu, com sua profissão de fé, para, então, remar em direção ao inferno, com suas práticas. Não finja ter o amor de Deus, ao mesmo tempo que você ama o pecado. A piedade fingida é uma dupla iniqüidade. Que o seu coração seja reto perante Deus. Quanto mais simples é o diamante, tanto mais precioso ele é; e quanto mais puro é o coração, maior é o valor que Deus dá à sua jóia. O salmista disse sobre Deus: “Eis que te comprazes na verdade no íntimo” (Sl 51.6).
6) Nunca se esqueça da prática do auto-exame.
Estabeleça um tribunal em sua própria alma. Tenha receio tanto de uma santidade mascarada quanto de ir para um céu pintado. Você se julga bom porque outros pensam que você o é? Permita que a Palavra seja um ímã com o qual você provará o seu coração. Deixe que a Palavra seja um espelho, diante do qual você poderá julgar a aparência de sua alma. Por falta de autocrítica, muitos vivem conhecidos pelos outros, mas morrem desconhecidos por si mesmos. “De noite indago o meu íntimo”, disse o salmista (Sl 77.6).
7) Mantenha vigilância quanto à sua vida espiritual.
O coração é um instrumento sutil, que gosta de sorver a vaidade; e, se não usarmos de cautela, atrai-nos, como uma isca, para o pecado. O crente precisa estar constantemente alerta. Nosso coração se assemelha a uma “pessoa suspeita”. Fique de olho nele, observe o seu coração continuamente, pois é um traidor em seu próprio peito. Todos os dias você deve montar guarda e vigiar. Se você dormir, aí está a oportunidade para as tentações diabólicas.
8 ) O povo de Deus deve reunir-se com freqüência.
As pombas de Cristo devem andar unidas. Assim, um crente ajudará a aquecer ao outro. Um conselho pode efetuar tanto bem quanto uma pregação. “Então, os que temiam ao SENHOR falavam uns aos outros” (Ml 3.16). Quando um crente profere a palavra certa no tempo oportuno, derrama sobre o outro o óleo santo que faz brilhar com maior fulgor a lâmpada do mais fraco. Os biólogos já notaram que há certa simpatia entre as plantas. Algumas produzem melhor quando crescem perto de outras plantas. Semelhantemente, esta é a verdade no terreno espiritual. Os santos são como árvores de santidade: Medram melhor na piedade quando crescem juntos.
9) Que o seu coração seja elevado acima do mundo.
“Pensai nas coisas lá do alto” (Cl 3.2). Podemos ver o reflexo da lua na superfície da água, mas ela mesma está acima, no firmamento. Assim também, ainda que o crente ande aqui em baixo, o seu coração deve estar fixado nas glórias do alto. Aqueles cujos corações se elevam acima das coisas deste mundo não ficam aprisionados com os vexames e desassossegos que outros experimentam, mas, antes, vivem plenos de alegria e de contentamento.
10) Console-se com as promessas de Deus.
As promessas são grandes suportes para a fé, que vive nas promessas do mesmo modo que o peixe que vive na água. As promessas de Deus são quais balsas flutuantes que nos impedem de afundar, quando entramos nas águas da aflição.
11) Não seja ocioso, mas trabalhe para ganhar o seu sustento.
Estou certo de que o mesmo Deus que disse: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar”, também disse: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra”. Deus jamais apoiou qualquer ociosidade. Paulo observou: “Estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão” (2 Ts 3.11-12).
12) Ajunte a primeira tábua da Lei à segunda, isto é, piedade para com Deus e eqüidade para com o próximo.
O apóstolo Paulo reúne essas duas idéias, em um só versículo: “Vivamos, no presente século… justa e piedosamente” (Tt 2.12). A justiça se refere à moralidade; a piedade diz respeito à santidade. Alguns simulam ter fé, mas não têm obras; outros têm obras, mas não têm fé. Alguns se consideram zelosos de Deus, mas não são justos em seus tratos; outros são justos no que fazem, mas não têm a menor fagulha de zelo para com Deus.
13) Em seu andar perante os outros, una a inocência à prudência.
“Sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt 10.16). Devemos incluir a inocência em nossa sabedoria, pois doutro modo tal sabedoria não passará de astúcia; e precisamos incluir sabedoria em nossa inocência, pois do contrário nossa inocência será apenas fraqueza. Convém que sejamos tão inofensivos como as pombas, para que não causemos danos aos outros, e que tenhamos a prudência das serpentes, a fim de que os outros não abusem de nós nem nos manipulem.
14) Tenha mais medo do pecado que dos sofrimentos.
Sob o sofrimento, a alma pode manter-se tranqüila. Porém, quando um homem peca voluntariamente, perde toda a sua paz. Aquele que comete um pecado para evitar o sofrimento, assemelha-se ao indivíduo que permite sua cabeça ser ferida, para evitar danos ao seu escudo e capacete.
15) Fuja da idolatria.
“Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21). A idolatria consiste numa imagem de ciúme que provoca a Deus. Guarda-se dos ídolos e tenha cuidado com as superstições.
16) Não despreze a piedade por estar sendo ela perseguida.
Homens ímpios, quando instigados por Satanás, vituperam, maliciosamente, o caminho de Deus. A santidade é uma qualidade bela e gloriosa. Chegará o tempo quando os iníquos desejarão ver algo dessa santidade que agora desprezam, mas estarão tão removidos dela como agora estão longe de desejá-la.
17) Não dê valor ao pecado por estar atualmente na moda.
Não julgue o pecado como coisa apreciável, só porque a maioria segue tal caminho. Pensamos bem sobre uma praga, só porque ela se torna tão generalizada e atinge a tantos? “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as” (Ef 5.11).
18.) Com respeito à vida cristã, sirva a Deus com todas as suas forças.
Deveríamos fazer por nosso Deus tudo quanto está no nosso alcance. Deveríamos servi-Lo com toda a nossa energia, posto que a sepultura está tão perto, e ali ninguém ora nem se arrepende. Nosso tempo é curto demais, pelo que também o nosso zelo de Deus deveria ser intenso. “Sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor” (Rm 12.11).
19) Faça aos outros todo o bem que puder, enquanto você tiver vida.
Lute para ser útil à vida de seus semelhantes e para suprir as necessidades alheias. Jesus Cristo foi uma bênção pública no mundo. Ele saiu a fazer o bem. Muitos vivem de modo tão infrutífero, que, na verdade, suas vidas dificilmente são dignas de uma oração, como também seu falecimento quase não merece uma lágrima.
20) Medite todos os dias sobre a eternidade.
Pois talvez seja questão de poucos dias ou de poucas horas - haveremos de embarcar através do oceano da eternidade. A eternidade é uma condição de desgraça eterna ou de felicidade eterna. A cada dia, passe algum tempo refletindo a respeito da eternidade. Os pensamentos profundos sobre a eterna condição da alma deveriam servir de meio capaz de promover a santidade. Em conclusão, não devemos superestimar os confortos deste mundo. As conveniências do mundo são muito agradáveis, mas também são passageiras e logo se dissipam. A idéia da eternidade deve ser o bastante para impedir-nos de ficar tristes em face das cruzes e sofrimentos neste mundo. A aflição pode ser prolongada, mas não eterna. Nossos sofrimentos neste mundo não podem ser comparados com nosso eterno peso de glória. Considerem o que eu lhes tenho dito, e o Senhor lhes dará entendimento acerca de tudo. (Thomas Watson).

QUÃO ATUAIS NOS PARECEM TAIS CONSELHOS!

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